O dia 27 de fevereiro de 2016 entrou para a minha história de vida.
Sai para correr seis horas na montanha e, durante a prova-treino, eu e minha dupla vislumbramos a possibilidade de pódio. Mudamos a estratégia e, acreditem, conquistamos o 1º lugar geral da UD Ultra Desafio 80 km.
A prova foi em Passa Quatro (MG), a 420 km da capital mineira. A cidade é conhecida dos ultramaratonistas pelos terrenos desafiadores, altas altimetrias, umidade e baixas temperaturas. Silmar Souza foi o grande parceiro que compôs nossa dupla de revezamento. Nossa sintonia, credibilidade, amizade e muita garra foram determinantes para a conquista do pódio.
A largad a aconteceu às 22 horas de sábado. Os primeiros 4 km foram feitos em calçamento plano até atingirmos o pé da serra. Os 12 km seguintes foram de subidas constantes, escuras e cruéis. Nesta oportunidade, consegui me posicionar muito bem entre os primeiros colocados.
Aos 21 km, eu conseguia manter uma excelente colocação. Foi quando o Silmar passou por mim de carro e decidi que abandonaria ali o treino e partiríamos em busca do pódio. Aos 28 km, no primeiro ponto de controle, cheguei em 3° lugar após três horas de corrida, 1.300 metros de elevação e pace de 6:36 min/km. Neste momento, revezamos. Ainda descansado e muito determinado, Silmar reduziu bastante a distância das duas duplas que seguiam à nossa frente, inclusive passando por caminhos tortuosos.
Quilômetros depois, revezamos novamente e percorri outros 16 km em 1 hora e 46 minutos, passando, então, o atleta da dupla que estava na 2° colocação. Este trecho me marcou pelo longo tempo que fiquei sem ver qualquer atleta, numa escuridão plena e ainda acompanhado pela chuva momentânea. O mal tempo, inclusive, fez com que a prova fosse reduzida para 72 km por questões de segurança em função dos desabamentos e atoleiros excessivos, consequentes das fortes chuvas que ocorreram na região.
A prova se decidiu nos últimos 8 km aproximadamente, quando passamos a dupla que liderava. Com isso, tivemos a imensa felicidade de cruzar a linha de chegada em 1° lugar, com um tempo de 7 horas e 40 minutos. Já era dia: terminamos a prova às 5h40.
Correr por longas horas é sempre um aprendizado. Senti frio e, pela primeira vez, tive sono ao correr. Eu havia encerrado uma semana de trabalho intenso e dormido pouco no sábado à tarde, antes da prova. A monotonia, o silêncio e a escuridão também contribuíram para isso.
Muito me marcou quando passei pelo 2° colocado, que corria solo. Ele se perdeu do carro de apoio e tive a felicidade de compartilhar minha água, isotônico, coca-cola e energético com ele. Também emprestamos o meu carro para outra dupla que teve dificuldades com o automóvel deles. Foram experiências gratificantes que nos tornaram muito mais que simples corredores. Sentimos o verdadeiro espírito esportivo.
Faltam 45 dias para minha grande prova e ainda terei alguns percursos longos para cumprir. Fisicamente, terminei a prova muito bem e sem qualquer inconveniente. Me sinto forte e bastante confiante para os próximos desafios. Que venha a Ultra Fiord!
Até o próximo post!