Mizuno UpHill 2016: o grande dia chegou!

Após longos nove meses de treinamento, enfim chegou o tão sonhado dia de enfrentar a Serra do Rio do Rastro. Tinha feito uma viagem cansativa, porém tranquila na véspera. Visitei a exposição da prova que foi cheia de mimos para os aspirantes a ninja. Tive a oportunidade de conversar bastante com corredores do Brasil inteiro, inclusive com alguns campeões das edições anteriores e os organizadores. O jantar foi delicioso e o sono complicado, mas eu estava bem. De repente, lá estava eu, ao lado dos meus novos amigos, em frente ao pórtico de largada. Cabeça a mil e pernas trêmulas.

Chegou o grande dia do Desafio Secreto! Éramos eu, meus medos, meu treinamento e a Serra! Estávamos bem! Quando foi dada a largada, me sentia preparada para tudo o que viria. Sabia que estava bem treinada, lembrei-me da conversa com o treinador na véspera da minha viagem e sabia muito bem que precisava controlar a ansiedade e segurar o ritmo para não faltar fôlego no final. Não havia pretensão de tempo, eu só queria terminar! De preferência, dentro das 3h30 que era o tempo de corte! Mas não havia nenhuma cobrança.

No início, a prova me lembrou dos meus treinos pelas subidas do Belvedere! Eu sempre escolhia as maiores. Ver aquelas subidas me fez relaxar e sentir em casa. Foram 10 km me sentindo confortável. Dentro de um pace que eu sonhava fazer na Serra, mas não tinha coragem de contar pra ninguém! Estava tudo sob controle e me sentia bem. Mas assim que fechei esses 10 km, tudo mudou! Desde a paisagem, até o meu psicológico!

À medida que os quilômetros passavam, eu encontrava menos gente pelo caminho, começava a avistar muitas pessoas andando e comecei a sentir algumas dores. Primeiro, os joelhos incharam por causa de duas descidas (não fui feita para descer mesmo), depois comecei a sentir câimbras nas panturrilhas, mas nada que me tirasse do sério. Ingeri uma cápsula de sal, comi uma paçoquinha e bebi água. Voltei a me sentir bem. Seguia cantando solitária e ainda sorrindo. Era muita felicidade estar ali!

Mais alguns quilômetros e as câimbras voltaram. Quando começava a ficar difícil, encontrei duas paulistas que também tinham câimbras e seguimos nos ajudando. Até que as minhas dores pioraram muito e elas seguiram. A partir daí, os quilômetros passaram lentamente. O concreto duro da serra machucava meus pés e comecei a travar uma luta dura com a minha mente. Enquanto eu tentava manter a sanidade Serra acima, havia um fotógrafo em cada curva e isso me forçava a corrigir a postura, sorrir e dar aquele trotezinho maroto para sair bem na foto.Pode parecer bobeira, mas isso ajudou demais!

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Quando atingi a marca dos 17 km, depois de correr sozinha por uns bons quilômetros, avistei um corredor se arrastando Serra acima, ofereci ajuda, mas ele já tinha desistido. Pela primeira vez, tive medo de desistir, mas lembrei do quanto eu ouvi que estava pronta e segui em frente. Na curva adiante, encontrei uma amigada internet a ponto de desistir e me ofereci para seguir ao lado dela. Assim, fomos eu e a Leda num passo muito lento, mas vencendo as dores e a Serra. Seguimos juntas até o quilômetro 21, quando ela desistiu e entrou na ambulância com um quadro de desidratação e hipotermia.

Quando a Leda desistiu, me senti muito desamparada. Apesar da companheira dela estar ao meu lado, senti que éramos eu, a Serra e as minhas dores. Estar sem a Leda, fazia com que o foco voltasse às minhas dores e eu sentia uma câimbra que paralisava meus pulmões. A minha cabeça não estava pronta para parar. Mas o corpo começava a falhar. As dores no quadril e no joelho, que tanto me assombraram ao longo dos meses de treino não apareceram. Como assim eu não daria conta? Impossível parar naquela altura da Serra!

Segui assim por quase 2 km. Fui negociando com a Serra. Mais um poste. Mais uma curva. Mais uma respiração. Quando entendi a grandiosidade de tudo aquilo e me senti em paz, faltou ar! O pulmão falhou, as pernas bambearam e a Serra me parou. Lembro-me de entrar num carro da organização e subir uns metros até o ponto mais bonito da Serra. Minha prova acabou faltando pouco mais de 2 mil metros para o final. A Serra me venceu.

Fui atendida no ponto mais bonito da Serra. Fiquei deitada ali, no Mirante! Eu olhava para o céu nublado e uma garota massageava minhas costelas, mandava não parar de respirar e se desesperava no rádio pedindo apoio. Em alguns minutos, eu estava cercada por médicos nervosos que me perguntavam sobre quilometragem de treinos, alergias e mandavam não parar de respirar. Como eu ia parar de respirar?! Se para de respirar, morre! Fiquei ali, olhando o céu, ouvindo o desespero da equipe médica e tomando injeções nos braços. Parecia um filme. Quando a ambulância chegou, deitei na maca e foi assim que eu atingi o topo da Serra!

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No posto médico, reencontrei amigos, tomei oxigênio, chorei e entendi que o sonho tinha acabado. Aos 23 km, a Serra me venceu! Não fiquei triste. Eu estava viva e fui comemorar com meus novos amigos ninjas. O que eu aprendi na Serra, não valeria a medalha. O quão forte eu me tornei naquelas curvas é inexplicável. Isso, ninguém me tira!

O balanço final é muito positivo! Não só a Serra, mas as pessoas ao longo do caminho nos ensinam muito! Aprendi muito sobre solidariedade, companheirismo, dedicação, amizade, doação, limites. Na Serra, eu parei para ajudar pessoas, fui ajudada também por alguns, dividi a minha água e a minha comida, abri mão da minha dor para viver a do outro, senti paz no meu coração e conheci os limites da minha mente e do meu corpo. Saí da Serra muito mais forte do que poderia sonhar. A Serra do Rio do Rastro foi um divisor de águas na minha vida e me mostrou que é possível redefinir o impossível.

Eu estava pronta! Ano que vem tem mais: no dia 2 de setembro de 2017 eu tenho um encontro marcado com a Serra. E estarei pronta e em paz!

aline oliveira fevereiro
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De volta aos treinos!

Quando seguia para o primeiro treino do mês e primeiro depois de um intervalo proibida de correr e dedicada à fisioterapia, a ansiedade era tremenda.

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